Aviãozinho de Papel

Companhia das Letras | 1994

Sempre achei bonita a idéia de colocar uma mensagem numa garrafa e atirá-la ao mar. Lá vai a garrafa boiando e quem sabe um dia, do outro lado mundo, seja pescada, aberta e lida.

Um livro parece uma garrafa com uma mensagem dentro, boiando no mar. O escritor tem uma idéia misturada com um sentimento. Vai para a máquina de escrever e coloca tudo no papel. Depois leva na editora, o livro finalmente fica pronto e vai parar numa livraria. Uma livraria, pensando bem, parece um mar cheio de garrafas boiando cada uma com sua mensagem. Quantos livros bonitos! Quantas capas coloridas! Quantas idéias sobre a vida e mundo!

Um livro entre tantos livros, por outro lado, pode ficar meses e meses escondido nas prateleiras sem ser sequer notado. Mas um dia, e há sempre um dia, talvez um leitor apareça, talvez examine vários livros e talvez acabe escolhendo justo aquele esquecido num cantinho escuro da estante atrás da porta.

O leitor, então, vai voltar para casa, sentar numa poltrona confortável, colocar os óculos, abrir o livro e ler. Um livro ganha vida quando é lido. Parece que só assim cumpre o seu destino e o seu sentido. Uma garrafa atirada nágua é feito um livro e um livro é parecido com um aviãozinho de papel lançado do alto de uma janela. Também um aviãozinho, se tiver sorte, pode chegar longe carregando em suas dobras uma idéia, uma lembrança e um sentimento.

o autor

PS. Quando esse livro estava sendo editado, surgiu a idéia de colocar na página do meio um papel a mais. Caro leitor: retire o papel com cuidado, escreva sua mensagem, faça um aviãozinho caprichado e lance da janela mais alta que encontrar. Quem sabe um dia ele não consiga chegar do outro lado do mundo?