Dois poemas do livro Ninguém sabe o que é um poema

Ática | 2005

Clube dos corações solitários

O clube dos corações solitários
Começa quando já deu meia-noite
No corpo de um passageiro da vida
Que busca um sonho no céu da viagem

O clube dos corações solitários
É longe e fica na próxima esquina
É doce como se fosse a esperança
Que vive com quem viaja sozinho

No clube dos corações solitários
É sócio quem possuir uma marca
Vermelha do lado esquerdo do peito
Na forma de um coração tatuado

Epidemia

Quero o alastramento da felicidade
A propagação do sonho
O surto da esperança

Quero o declínio do insucesso
O decréscimo da derrota
A demolição do desalento

Quero a disseminação da boa-nova
O vírus alvissareiro
O contágio da alegria

Quero a extinção do desastre
A anemia da descrença
A agonia do pessimismo

Quero o tráfico da poesia
A precisão exata da anomia
A epidemia noite e dia
Da utopia