O moço do correio e a moça da casa de tijolinho

Editora Tribos | 2009

Sobre carteiros e cartas

Sempre simpatizei com o trabalho dos carteiros. Em geral à pé, subindo e descendo ladeira, lá vão eles incansáveis, todo o santo dia, de rua em rua, de casa em casa, enfrentado sol, chuva, vento, frio, calor e até, às vezes, dentadas de cachorros malfeitores, com aquela sacolinha dependurada no ombro, carregados de correspondência para entregar.

Moro na mesma casa há vinte e tantos anos. Vários carteiros já trabalharam na minha rua. Não consigo me lembrar de um que fosse antipático. Tenho a impressão de que todos os carteiros são gente boa. Talvez porque saibam que sua profissão é muito importante. É gostoso receber cartas. Não me refiro a folhetos de propaganda, mensagens burocráticas ou informes e boletos bancários. Falo em cartas pessoais escritas à mão. Mensagens que trazem notícias, agradecimentos, afetos, conselhos, saudades, pedidos e sentimentos. É sempre prazeroso abrir o envelope, desdobrar a carta e examinar a letra do remetente. Letras manuscritas são únicas, algo particular, íntimo e revelador.

Por causa dos computadores, muita gente passou a enviar suas mensagens pela internet. Até mesmo mensagens pessoais! É triste. Escritas por teclados, essas cartas mambembes ficam parecidas com folhetos de bancos, anúncios de publicidade e manuais técnicos. Temo que um dia as pessoas não saberão mais escrever a mão. No lugar de letras e garranchos absolutamente pessoais e inesperados, teremos as mesmas Times Roman, Lucida, Univers, Verdana, Arial e outros tipos frios, mecânicos e padronizados. Tomara que esse tempo demore para chegar.

Cartas escritas à mão têm vitalidade, são calorosas e significativas. Podem ser tão pessoais que chegam a ter o perfume e até as digitais da pessoa que as escreveu. Significam que alguém de carne e osso em algum lugar, sei lá onde, lembrou-se da gente, precisa da gente, sentiu saudade, deseja mandar ou receber notícias da gente. Na verdade, elas carregam um pouquinho da pessoa do remetente, afinal, nossa letra é um pedaço da gente fora da gente.

Receber uma carta dessas é uma confirmação de que não estamos sozinhos na vida e no mundo. Ter certeza disso é precioso e reconfortante. Já colocou hoje, no correio, uma carta para alguém que você gosta de verdade? Não?! Caramba! Está esperando o quê?