Trago na Boca a Memória do meu Fim
Trago na boca a memória do meu fim recebeu o Hors Concours no Prêmio AEILIJ de Literatura, 2019 AEILIJ Associação dos Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil
Não por acaso, os protagonistas de Trago na boca a memória do meu fim, dois jovens valentes – mas não muito sérios e um tanto enrolões –, andam aos tropeços por sua desastrosa viagem, cercados de senhores da terra que, por sua vez, vivem ar- mando maracutaias, fugindo dos impostos, descumprindo as leis e envolvidos em esquemas de corrupção. Nossos jovens, por sinal, caminham pelos matos e trilhas com sonhos de um dia encher o baú de dinheiro, dar o fora e ir morar gostosamente em Portugal. É preciso dizer que, de certa forma, os dois enfrentam na própria pele o racismo nefasto e desumano existente naquele tempo e que, contrariando a ciência, a razão e os fatos, persiste infelizmente até os dias de hoje. Ao mesmo tempo, a dupla é bastante ambígua e oportunista em relação à escravidão ou à destruição dos povos indígenas.
Como muitos naquela época, ambos acreditam em curandeiros, bruxarias e adivinhadores de futuro e vivem às voltas com uma religiosidade primitiva, cheia de infernos e céus, blasfêmias, culpas, pecados e contradições, como o fato de não enxergar fronteira alguma entre o mundo dos mortos e o mundo dos vivos.
Tudo isso sem falar no fato de que, durante seu tortuoso trajeto, os dois aventurei- ros convivem com certos temas inescapáveis da vida humana: os amores e as paixões; a luta diária pela sobrevivência; as complicadas e, por vezes, dramáticas relações entre pais e filhos; momentos de injustiça, loucura, violência, medo e mentira e, claro, como pano de fundo, a presença galopante, constante e certeira da morte.
Enfim são esses, entre outros, os assuntos que permeiam do rabo ao cabo o texto que o leitor tem agora em mãos.
Esclareço ainda, e antes que seja tarde, que não sou historiador. Nossa história é uma paisagem imensa, cheia de incertezas e em permanente estado de revisão. Criei a trama de Trago na boca a memória do meu fim com base nas pesquisas que consegui fazer.