Iniciei a pesquisa sobre o período colonial brasileiro em 2010 e dela resultou o livro Fragosas Brenhas do Mataréu, publicado em 2013, ganhador do prêmio Jabuti na categoria Melhor Livro Juvenil, em 2014. Acontece que continuei estudando o assunto e com um interesse cada vez maior. É que, por meio dos livros que lia, eu me sentia – e ainda me sinto –, de um lado, a mergulhar num passado aventureiro, injusto, áspero, rico e fascinante vivido pelos primeiros brasileiros e, de outro, muito próximo do Brasil de hoje.

O livro O moço que carregou o morto nas costas e outros contos populares, publicado pela Editora Melhoramentos e ilustrado por Catarina Bessel dá, na verdade, continuidade à uma pesquisa que venho fazendo há mais 30 anos, selecionando e criando versões de narrativas populares.

Tese de Doutorado: Abençoado & Danado do Samba, de Ricardo Azevedo, busca identificar, caracterizar e compreender algo que, embora bastante diversificado e multifacetado, poderia ser sintetizado pela noção de discurso popular. Este, por sua vez, estaria inserido numa assistemática, mas riquíssima e influente “poética popular”, um conjunto de princípios que permitem afirmar que tal discurso seja de fato predominantemente popular e, também, capaz de determinar e reunir certas características, recursos e procedimentos recorrentes em sua linguagem.

O folclore, ou seja, o universo onipresente e transitório formado pelos mitos, contos, versos, festas, comidas, danças, rezas, simpatias, crendices, anedotas, adivinhas, cantigas, ditados, parlendas, frases feitas etc., inventados pelo povo, é do tamanho do infinito.

A região cheia de serras e paisagens bonitas tem muitas histórias para contar. Isso porque é muito antiga. São trezentos e tantos anos de gente vivendo no vale, trabalhando, construindo vilas e cidades, plantando, comerciando, sonhando, rezando, lutando para viver, contando histórias, inventando tradições, lendas e crendices, ou seja, explicações para as coisas do mundo.

Dois viajantes andavam a pé pelos caminhos e descaminhos do mundo. Durante sua jornada, percorreram outros países, visitaram povos e costumes desconhecidos e atravessaram montanhas, vales, florestas e desertos. Certo dia, o sol estava  de rachar, decidiram parar para descansar o corpo. Sentaram-se debaixo de uma mangueira. O lugar era agradável e florido. Os passarinhos […]

Histórias de bobos, bocós, burraldos e paspalhões foi publicado pela primeira vez em 2001 e trazia versões de quatro contos populares.

Longe de ser apenas brincadeiras com palavras, todas as adivinhas costumam também ser metáforas. Ou seja, dizem uma coisa mas, ao mesmo tempo, querem dizer outra.